Dois fatos pitorescos vêm-me à memória gratificante nestes dias em que celebramos São José da Lagoa. Um deles me faz sempre rir. Trata-se de minha tia-avó Maria Leão que residia num casarão logo ao começo do antigo Bairro. Como era costume, ela foi contemplada para a festeira de um próximo ano. Além de uma pessoa de coração magnânimo, tinha ela um modus vivendi de uma lentidão impressionante. Começou o mês e, consequentemente, o trintenario. Era nosso costume frequentar todas as noites a celebração das rezas. Reuníamos em grupos e partíamos a pé. Compunha conosco a comitiva Salvador de Benita. Como era muito debochado, ao passar defronte à casa da lenta tia festeira, ele gritava: “Vamos, paciência, tira o pé do chão! Já são 7 e meia ” Enquanto isto ela ainda estava servindo a janta! Demorava de ir e chegava à Capela às 8 e tantas! E os devotos já impacientes ameaçavam ir para casa! E ela serenamente chegava e dizia: ” Vixe. Esqueci as chaves. Vão, meninas, buscá-las Estão na mesa do oratório. “Tal fato acontecia sempre Algumas vezes, as devotas sugeriam rezar na porta do Santuário, só não o fazendo porque a boa iaiá Lorminda, mesmo cochilando, dizia: “Não vamos fazer isto tenham paciência!” Assim, prosseguiam os festejos, a ritmo de ramerrão, mas chegaram ao fim com êxito! Outro caso deu-se conosco, estudantes do Ginásio de Paramirim, por frequentarmos assiduamente o trintenario. Certo dia, o Diretor chamou-nos, perguntando se nós passávamos todas as noites para as rezas! E que tal não poderia continuar, pois deveríamos estar estudando as lições do dia e do seguinte. Falou-nos que ia colocar alguém para fiscalizar a nossa passagem que era pela atual Av Dr. Nelson. Como os jovens sempre têm um ardil para justificar suas ações, não interrompemos nossa caminhada. Optamos por passar, num corredor estreito chamado Velhaco que ficava ao lado do antigo campo de futebol e assim cumprimos nossa promessa! Dois fatos simples, mas fez história!
Texto: Antônio Gilvandro Martins Neves.