A FOLIA DOS REIS MAGOS.
A Folia dos Reis Magos teve origem na Europa. Chegou ao Brasil junto com os Portugueses durante o período da catequese e da colonização. Tanto na Espanha como em Portugal a festa faz parte da cultura. A Bíblia nos informa que, ao saber que Jesus houvera nascido, os três Réis Magos foram procurá-lo, levando presentes ouro, incenso e mirra. Dali para cá, essa atitude foi- se repetindo pelos séculos em fora, nascendo a tradição de se formar ternos com o intuito de adorar o Menino nas atuais grutas de Belém, representadas pelo presépio erigido de barriguda e forrado de casquinhas e barbas de bode. Assim, foi surgindo aqui e acolá aquilo que denominou ” lapinha”. E leva de gentes se espalhava nas comunidades para, em grupo, proceder à visita em cada casa. Aqui não foi diferente e temos de lembrar, entre outros, o REIS DE CHICO BAZE’, um velho pai de família e sua mulher, Maria, que, com sua grande prole, organizou essa confraria reiseira para louvar o Divino Infante da estrebaria de Belém! Muito singelos, com trajes humildes do dia-a-dia, sem fantasiar- se de algum costume próprio de outras civilizações, vestiam suas roupas modestas, contextualizando um cenário de pobreza, notabilizado em torno da manjedoura. Ali. aquelas vozes de rouxinol na quietude da noite desfilavam pelas ruas da Cidade, madrugada adentro! O velho Bazé, com aquele ombro direito arreado de tanto conduzir as barracas da feira livre, empunhava a caixa que ele fazia falar no batuque! Seguiam-se lhes os filhos, cada qual com seu carisma, formando um verdadeiro concerto orfeônico clássico! Após os louvores natalinos, partiam – se para o samba, especialmente, dona Maria Bazé dava um show malabarista, no qual ela parecia que sambava no ar! Arrancava palmas dos assistentes que deliravam ante o espetáculo que a anciã encantava com sua agilidade. Assim, o Bazé do reisado não esgotava sua atuação apenas no círculo de sua família! Ele acolheu pessoas outras para engrossar a fileira de seu Terno que tanto alegrou o habitat do Natal por aqui! Foi no seio daquele magistral monumento cultural popular humilde que se destacaram para o mundo artístico religioso-folclórico alguns expoentes do samba que, no seu mister, não tiveram similares: as Irmãs Coló, notadamente, Flora, hoje com 102 anos, Maria Coquinho, com 95 anos e Isabel, já falecida! Este Trio não devia concorrência com ninguém! As três rodopiavam no salão, parecendo sambar sobre as nuvens! Vê-las sapateando, enchiam-nos de júbilo! Era algo deveras divino! Dessa forma, esta Semana que nos chamamos de Reis constitui outra riqueza da nossa cultura desta terra antoniana! Sem ser alienadamente. saudosista, gostaria eu e tantos noutros de que aqueles tempos voltassem para virmos, de novo, aquelas notáveis figuras exibirem no salão de nossos lares o samba que notabilizou a nossa história Reiseira, que marcou a inteligência de Paramirim, não nos deixando invejar do Morro carioca, pois aqui, aqui mesmo, temos valores que não nos faz recear de ninguém. Valores é o que bem temos! Por que, então, fiquemos como espectadores passivos numa história que é muito nossa e pede todo nosso dinamismo? Saíamos de nosso pequeno mundo! A cultura não tem fronteira nem castas! Os valores culturais nascem das pequenas coisas! A cultura não tem limites ou tamanhos! AS PEQUENAS COISAS? OS PEQUENOS MOMENTOS? ELES NAO SÃO PEQUENOS! (Jon Kabat Zinn).
Texto: Antônio Gilvandro Martins Neves.
