“Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando, mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: “já se foi”. Terá sumido? Evaporado? Não certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao ponto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: “já se foi”, haverá outras vozes além, a afirmar: “lá vem o veleiro” !!!
Assim é a morte”. (Rabino Henry Sobel)
O sertão, embora ressequido, abre o seu seio para guardar um dos seus valorosos sertanejos, nosso estimado Dedé Brito. Servidor Público aposentado, íntegro, educado e verdadeiramente servidor, quando desempenhava a sua atividade como escrivão do Cartório de Registros Imobiliários, atendia a todos com a mesma presteza e cordialidade, foi um digno Servidor Público. Trilhou a vida navegada na conduta irretocável.
O mal de Parkinson que lhe acometera, fez tremular-lhe o corpo, mais não conseguiu envergar o seu caráter e a sua honradez.
Nutro por Dedé uma consideração e admiração além túmulo, nunca me faltou com a sua atenção e os seus préstimos. Quando há 12 anos me mudei de Paramirim, recebi dele um abraço e com a voz embargada disse-me: “transfiro a você os mesmos préstimos que sempre dediquei a seu pai, estou aqui à sua disposição”.
Recordo-me de Dedé, quando no dia 28 de dezembro de 1978, um anoitecer chuvoso, ele todo molhado pela chuva, batera na porta da casa de meus pais, na Av. São José, dando-nos a notícia de que ouvira através da Rádio Sociedade da Bahia, a divulgação da lista dos aprovados no vestibular da Universidade Federal da Bahia, e, o meu nome se encontrava no quarto lugar na classificação do curso de Direito. (Naquela época, não se falava em telefone fixo com DDD, malmente o serviço de rádio da antiga comissão do vale de são Francisco). Vimos a tamanha satisfação de Dedé ao dar-nos à notícia.
Ao costumeiramente retornar a Paramirim, nunca deixei de efusivamente cumprimentar Dedé, Nilson e Laércio. Dedé sempre se levantava da cadeira e abraçava-me. Guardo comigo esta fotografia do ano de 2008, feita no quintal da residência de Evilásio, quando saboreávamos uma cerveja bem gelada, por ocasião das festas juninas.
Descanse em paz, meu estimado Dedé. Sua partida deixa o Vale do Paramirim mais empobrecido, mas, o quê se há de fazer? Se é esse o pesado tributo da humanidade. Que a terra lhe seja leve!
Minhas condolências a todos os familiares, especialmente a D. Mirthes, Mônica, Marcelo e Alexandre.
Texto e Foto: Délio Martins.
Lembro muito bem do Sr. Dedé da década de 70 do seu trabalho da pessoa e como dedicou sua vida toda em prol desta cidade que tanto o amava, meus sentimentos a sua esposa e filhos.
Realmente um Grande entre os grandes, conterraneo descance em paz