Precisamente às 19.30 horas de hoje, fui participar da missa em louvor a esta Santa, Padroeira do Bairro Mãe Isabel desta nossa Cidade. Enquanto eu aguardava o ato litúrgico, veio-me à mente a história do dito Bairro. Ele surgiu numa área, donde viveu uma figura lendária, de uma bondade ímpar. Era aquela a quem se convencionou chamar MÃE ISABEL. Escrava negra, de corpo relativamente avantajado, portadora de um bócio, ou seja, um. “papo”, na parte anterior do pescoço, tinha como seu habitat toda a região que hoje engloba esta parte residencial de Paramirim. Com aqueles olhos vermelhos, parecia traduzir agressividade. Parecia apenas! Na realidade, entretanto, era simplesmente uma aparência, pois a doçura de seu modus vivendi encantava a todos. Vivia numa casa de enchimento com piso de chão batido, que era um palacete de caridade. Benzedeira famosa, suas orações chegavam fáceis aos pés do Altíssimo. Não cobrava um tostão de ninguém, mas tinha a casa farta de doações que se lhe ofertavam aqueles que recebiam suas bênçãos milagrosas. Ela recebia e depois partilhava com os demais pobres como ela. Na época dos tormentos da fome, anos 1890, 1900, a sua porta era a réplica de uma romaria. Uma infinidade de gente buscava ali o refúgio de seus sofrimentos que ela acudia com as benzeduras e o pão. Buscava mitigar os sofrimentos com a prece e os conselhos e aliviava a fome de inúmeros que iam àquela choupana sagrada comer o pirão, que ela chegava a dividir de seu próprio, a fim de que ninguém saísse dali sem set servido! Analfabeta de letras, porém, sábia em doação, a Mãezona ex-escrava é “um tesouro escondido”, no dizer do escritor americano Thomas Merton, que quase a totalidade de nosso povo desconhece. Aliás, todos nós conhecemos a denominação daquele antigo recanto inóspito que fora o Mãe Isabel. E por que o chamávamos assim? E ainda continuaremos fazê-lo? É porque ali viveu uma Santa Escrava não canonizada que hoje tem como Padroeira outra Santa Isabel, Rainha de Portugal, que não foi pobre de bens, mas depois vendeu toda a riqueza do seu Palácio, doando aos pobres mais pobres da terra de Camões. O Bairro aqui nasceu, sob o signo da doação de lotes àqueles que não tinham casa própria. Hoje, vale a pena ver como o outrora terreno baldio da venerável Escrava que foi Mãe de tantos filhos espirituais encontra- se num aspecto de nobreza! Numa beleza sóbria que deve encher de alegria o céu que recebeu aquela Mulher que veio da senzala para mostrar à história a dignidade de Servir! Sua Xará. Padroeira está aqui no lugar certo. UMA SANTA ESCRAVA.JUNTO A UMA SANTA RAINHA! Afinal de contas, JESUS É O SENHOR DA HISTÓRIA! Tudo é plano dEle, somente dEle! Creio absolutamente nisto! Amém.
Texto: Antônio Gilvandro Martins Neves.