Dr. José Bernardino, o primeiro médico de Paramirim
Nasceu, provavelmente no sitio Bebedouro, freguesia do Santíssimo Sacramento das Minas do Rio de Contas, província da Bahia, em 30 de junho de 1836. Era filho do Capitão José Bernardino de Souza Fagundes e Maria Custódia de Mesquita Leão, sendo sua genitora natural da localidade de Lagoa Clara, município de Macaúbas. Possuía um irmão por nome Manoel Tarquino de Souza Leão, do qual ainda existem vários descendentes, principalmente em Botuporã. Era sobrinho, pelo lado materno, do Padre Fernando Augusto Leão e primo carnal do Monsenhor Hermelino Marques Leão.
Como interno da Santa Casa de Misericórdia, em Salvador, obteve grau de Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, após apresentar e defender a tese Da Conveniência e Desconveniência das Sangrias nas Pneumonias, em novembro de 1861. Sua turma era composta de 14 internos: Cícero Alves dos Santos, Felix Gaspar de Araújo e Almeida, Francisco Marques de Araújo Góes, Gustavo Baldoino de Moura Câmara, João Cupertino da Silva, Gerônimo Sodré Pereira, José Maria de Freitas, José Bernardino de Souza Leão, Jayme Alvares Guimarães, José Antônio Lopes, José Antônio da Silva Serra, Jacintho Silvano de Santa Rosa, Manoel Antônio Melgaço e Theofilo Nunes Sarmento. Conta-se que por desconhecidas razões não retornou à faculdade para receber o seu diploma, fato que nos leva a crer que o mesmo ainda se encontra nos arquivos dessa escola à espera de quem por direito possa retirá-lo e tê-lo como uma relíquia da família Leão
Pelo lado materno, tem sangue mineiro, por ser neto de Thomé Fernandes Leão (ex-padre), procedente da freguesia de Serro, Minas Gerais. Sabe-se também que sua genitora, após enviuvar-se, contraiu um segundo casamento com Dr. Francisco Jorge Monteiro, formado em Ciências Jurídicas e Sociais, pela faculdade de Olinda, com atuação em várias comarcas, inclusive nas de Rio de Contas e Paratinga, como Juiz. Sua origem paterna se prende à tradicional família Fagundes, da qual é membro o seu tio Capitão Plácido de Sousa Fagundes, antigo proprietário da fazenda Itaberaba, às margens do São Francisco.
Ao longo de sua carreira profissional, residiu na região de Irecê, terra de sua primeira esposa, em Ibotirama (antigo Rio Branco), Macaúbas e Paramirim. Neste último município, além de exercer a medicina de acordo os mandamentos de Hipócrates foi também proprietário das melhores terras do sitio Bebedouro, onde montou a sua residência e consultório num vistoso casarão em frente do qual havia um Santo Cruzeiro.
Casou-se inicialmente com Mirgilina Custódia de Souza Leão, filha de Manoel José Pereira e Francisca Inácia da Silva, em cerimônia religiosa celebrada pelo Pe. Fernando Augusto Leão (seu tio) no Sítio Bebedouro, em 5 de novembro de 1862, um ano após a sua formatura. Desse casamento nasceram os filhos: Raul de Souza Leão, Manoel Fernandes, Leopoldo, Maria Cora, e Maria Custódia, através dos quais vem se multiplicando a sua descendência por várias gerações. Seu segundo casamento se deu com Anna Josepha de Souza Leão, filha legítima de Jose de Souza Porto e Maria da Silva Porto. Tiveram os filhos Constâncio de Souza Leão (Constancinho), João Batista, José Bernardino (Zezinho), Maria José (Zezinha), Maria Augusta (Ducha), Maria Santa (Santinha), perfazendo um total de 11 filhos em ambos matrimônios.
Um dos episódios mais marcantes de sua vida ocorreu na tarde de 23 de março de 1878, quando na porta de sua residência, na vila de Macaúbas, foi alvejado por dois tiros de arma de fogo durante a invasão desta vila pelos homens do Capitão Phorfirio Jose Brandão. Em consequência dos disparos teve uma de suas pernas fraturada, ficando entre a vida e a morte por vários dias, conforme foi noticiado por alguns periódicos da época. O motivo desses transtornos deu-se por conta de sua nomeação para o cargo de primeiro suplente de delegado de polícia desse município, graças ao seu prestígio como membro do Partido Liberal e a demissão do citado Capitão, chefe do Partido Conservador, em Macaúbas.
Faleceu no sítio Bebedouro em 27 de janeiro de 1904, aos 68 anos de idade, sendo sepultado na capela Coração de Jesus, localizada na praça do mesmo nome, em Paramirim. Na sua pedra sepulcral, ainda hoje existente na nave da citada capela, lê-se: ” Aqui jazem os restos mortais de Dr. José Bernardino de Souza Leão. Nascido em 30 de junho de 1836. Falecido em 27 de janeiro de 1904.” Raro testemunho de sua trajetória de vida, uma vez que não foram encontradas as certidões do seu nascimento e óbito. Sobre a sua pessoa, numa das sessões da Assembleia Legislativa Provincial da Bahia, em discurso, na sessão de 19 de junho de1878, disse o deputado Américo Barreto: ” Dr. José Bernardino de Souza Leão, delegado de polícia, cidadão titulado, pai de família, distinto por muitos títulos… “
Para perenizar a sua memória como cidadão paramirinhense e primeiro médico (porque não dizer também o primeiro doutor) do município, a Câmara de vereadores de forma justa e merecida, consagrou o seu nome em uma importante
artéria da cidade, pela lei n° 16, de 30 de novembro de 1974, promulgada pelo então prefeito, Cidadão Ulyssses Azevedo Bittencourt. Oxalá, que alguém tenha a iniciativa de comemorar o seu bicentenário em junho de 2030.
Paramirim, 15 de agosto de 2021
Prof. @Domingos
Fonte: Facebook de Domingos Belarmino.
