A história de nosso Carnaval não só se restringiu aos desfiles infantis e bailes em salões variados. Nascendo o Clube Social, concentrou -se ali as celebrações. Durante o dia, havia apenas a curtição particular da ressaca. Tudo, porém, resumia-se na noite com o baile naquele local recreativo e cultural. Fantasiados ou não, sentados à mesa ou espraiando-se pelo chão, nós foliões curtíamos a alegria naquele clima confraternativo. A esse tempo, havia a escolha da Rainha e das Princesas do Carnaval que eram coroadas e recebiam o cetro e as faixas para reinar soberanamente por um ano. As fantasias femininas eram deslumbrantes, mostrando a arte e o luxo. Quanto aos homens, eram só calça comprida e alguns de abadá, pois não era permitido o uso de bermudas. Por falar nisto, certa vez, fomos barrados na porta do Clube, num dia de Carnaval, porque estávamos trajados de bermudas! Foi preciso mostrar fotos nossas, usando-as. Salvador, onde estudávamos! Interessante é que o Guarda barrador, hoje, usa-a. diretamente! Como o mundo evoluiu !!! Em meio a tanta celebração sadia, uma coisa não me descia à garganta! Era a existência do Canecão, baile carnavalesco no salão do Cinema para as empregadas domésticas, negros e pobres! Não entendia haver em pleno Paramirim de Santo Antônio uma chaga social aparentemente disfarçada, pois, de todos os lados, viam-na com naturalidade! Se aquelas auxiliares do lar ficavam em casa junto da família onde trabalhavam, por que numa festa social. teriam a separação? Essa lastimável incoerência nunca me deu resposta! O tempo se incumbiu de extirpar esse preconceito, quando os festejos de Momo foram para a praça, tornando-se todos em um só, parafraseando Castro Alves: “A Praça Santo Antônio é do povo como o céu é do condor. Ou no dizer de Caetano Veloso: “Como o céu é do avião”.
Texto: Antônio Gilvandro Martins Neves.