– Pai, olhe.
– O que, meu filho? Deixe-me trabalhar.
– Um homem no meio da rua.
– Um homem no meio da rua? As ruas estão cheias de homens, os homens estão cheios de ruas.
– Eu nunca vi um homem daquele na minha vida.
– Ele é muito feio?
– É estranho.
– Para você me deixar em paz eu vou ver quem é este homem. Cadê o homem?
– Lá no meio da rua.
– Aquele?
– Sim. É aquele lá mesmo.
– Um homem suspeito, muito perigoso. Se eu fosse você eu iria para casa estudar.
– Por quê?
– Aquele homem está à procura de crianças traquinas.
A criança entrou para a casa, mas sempre retornava para ver se o homem já tinha partido. Sempre encontrava o homem na mesma posição. Intrigada resolveu se aproximar. Tomada pelo medo foi vencendo o percurso aos pouquinhos. Ao chegar próximo ao homem percebeu que o mesmo não se passava de um boneco feito por algum dos moradores da rua. Indignado quebrou o ser que lhe tirava o sossego em várias partes.
Voltou para o local onde o pai trabalhava. Sentou em um banco e ficou a observar o pai realizar os trabalhos. Não falava nada, apenas seguia os passos do pai com os olhos. Não demorou em roubar a paz do genitor.
– O que é que você tem?
– Por que o senhor mentiu para mim?
– Eu? Que eu saiba eu não mentir para você.
– Você disse que o homem da rua levava crianças traquinas.
– Se eu disse é porque era verdade.
– Olhe para ver se ele se encontra mais lá.
– Deve ter ido embora.
– Não, ele não foi embora. Eu fiz dele pedacinhos.
– Você quebrou o boneco?
– Quebrei.
Escutou-se um baque. Os dois correram para o local. Ao se aproximar viram o motorista do carro em plena desordem de consciência. Esbravejava com Deus, soltava os cachorros nos Vereadores, falava mal do Prefeito e tudo mais.
– Acabou com o meu carro.
– Foi a chuva que abriu este buraco – fala o pai do garoto.
– Então por que ninguém daqui o assinalou?
– Eu fiz um boneco e coloquei no local.
– Cadê ele? Não estou vendo nada aqui. Você é mentiroso.
– Eu não sou mentiroso não.
– Por causa da mentira do meu pai o seu carro caiu neste buraco.
– Até o seu próprio filho lhe chama de mentiroso.
– Se o senhor não tivesse mentido para mim, pai, nada disso teria acontecido.
Uma verdade mal falada pode ser maléfica; uma mentira, certamente, fará estragos.
lembrei desses espantalhos ns roças d arroz gostosos do meu pai .