A família Medrado é uma das mais tradicionais do Estado da Bahia. Sua presença na Chapada Diamantina já ultrapassa a casa dos 300 anos. No seio dela nasceu Dr. Edgard Landulpho da Rocha a 9 de novembro de 1898 na cidade Mucugê. Seus pais Sebastião da Rocha Medrado e Edith, com o mesmo sobrenome, eram primos carnais entre si por serem netos do Cel. Antônio Landulpho da Rocha Medrado, vulgo Douca Medrado, um dos chefes políticos mais respeitados da Chapada.
Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1925, com 27 anos de idade. Abraçou a profissão com todas dignidades merecidas, preferindo o interior do estado por saber que nele o seu trabalho seria mais útil, em virtude da situação em que vivia o sertão naquela época, isolado dos grandes centros com extrema carência de médicos. Veio para Paramirim numa ocasião em que um grande surto de febre tifoide grassava na região e a população valia-se de um ou dois farmacêuticos práticos e na maioria das vezes de curandeiros. Aqui chegando empenhou-se no tratamento e combate das principais doenças que afetavam o Vale do Paramirim, tais como tifo, tuberculose, sarampo, varíola e inúmeras verminoses, muitas delas provocadas por falta de saneamento básico. Raríssimas casas possuíam fossas e grande parte de sua população andava descalça. Na vila de Paramirim, por exemplo, não havia esgoto, água tratada, iluminação pública, postos de saúde com poucas ruas calçadas. Muitas mulheres morriam no parto e no mal do sete dias (tétano umbilical) difundia-se impiedosamente na região, contribuindo para o alto índice de mortalidade infantil, principalmente entre os recém nascidos.
Por influência de seu sogro, Cel. Chico Brasil, que por anos a fio mantinha-se no poder, Dr. Edgard é contemplado na política local com uma candidatura ao cargo de prefeito pelo Partido Social Democrático (PSD), apoiado pelas principais lideranças do município. Como candidato único e valendo-se também dos seus dotes pessoais ganha as eleições realizadas em 15 de janeiro de 1936 para um mandato de 4 anos que não chegou a conclui-lo em virtude de sua morte prematura. Tomou posse junto com a Câmara de Vereadores em 18 de outubro do mesmo ano, colocando como plataforma do seu governo a construção do cemitério público que ficou conhecido com o nome de Cemitério Novo, pelo fato de já existir na vila o antigo cemitério paroquial (hoje Pe. Benvindo) construído no final do século XIX por iniciativa dos próprios moradores do arraial sob a liderança do Sr. Pedro Manoel Jacintho, mais conhecido por Pedro Seleiro.
Conta a tradição oral que certa feita, Dr. Edgard passando pelo local da obra viu os trabalhares descansando sob um frondoso pé de umburana, outrora muito comum na região. Naquele instante advertiu os operários para não derrubar a árvore, sentenciando que queria sua sepultura naquele local. Dito e feito. Sua vontade foi cumprida. Mal, o cemitério se achava concluído, o jovem médico veio a óbito por conta de suas enfermidades e o seu corpo foi sepultado no local pretendido. Tanto é que a prova é mais do que concreta. A direita de quem entra nesse campo santo, logo após, o portão, um modesto túmulo decorado pelo tempo ostenta uma tênue inscrição. Aqui jazem os restos mortais de Dr. Edgard Landulpho da Rocha Medrado, falecido em 26 de dezembro de 1936. Saudades de sua esposa.
Com essa curta trajetória de vida Dr. Edgard Medrado se tornou parte da história de Paramirim como membro da família Medrado, como prefeito eleito pelo povo, como médico e como a primeira pessoa a ser sepultada no cemitério por ele próprio construído. Em 1928 já se achava clinicando em Paramirim, conforme consta na declaração de óbito do Padre Antônio Romualdo dos Santos (vigário de Piatã) ocorrido em 23 de outubro daquele ano. Com esses atributos escolheu Gulhermina Medrado e Silva – uma das três filhas do seu tio Chiquinho – para sua futura esposa, com ela se casando civilmente em 22 de julho de 1930, selando-se, assim, um vínculo maior com a terra que o recebeu como filho e com os paramirinhenses que o tomaram como irmão.
A morte de Dr. Edgard Medrado constituiu-se num acontecimento de grande repercussão no seio da pacata vila de Paramirim. De uma só vez e na mesma pessoa o município perdeu o seu médico e o seu prefeito, ficando a população desprovida de sua maior referência. Um fato considerado inédito na história local. No seu registro de óbito consta que o falecimento ocorreu na sua residência localizada na praça da Matriz por volta das quinze horas do dia 26 de dezembro de 1936, sendo declarante o Sr. Francisco Brasil Rodrigues da Silva que se fez acompanhar das testemunhas Urbino de Magalhães e Silva, coletor federal, e António Caires Brito funcionário público municipal. Com a vacância do cargo, assumiu a prefeitura, na condição de presidente da Câmara, o Cel. Leopoldo de Sousa Leão, que permaneceu interinamente no cargo até 08 de janeiro de 1937, data em que a mesma Câmara elegeu em sessão extraordinária o Cel. Francisco Brasil para continuar e concluir o mandato. Em 1978, na administração do prefeito José Barbosa Leão (1977-1981) o Cemitério Novo passou a ser oficialmente denominado Cemitério Dr. Edgard Medrado e assim permanece até os dias de hoje.
Paramirim, 20 de maio de 2021.
Prof. Domingos
Fonte: Facebook de Domingos Belarmino.
