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Escravo Moderno
A sociedade humana sempre pautou seus mecanismos de trabalho e progresso movidos pela energia oprimida de cativos. Foi assim com os árabes, com os negros africanos e está sendo neste exato momento da modernidade com grande parte da população mundial. O homem moderno que se acha dono do seu nariz, um feliz liberto, vivente e fruto da democracia, no fundo das raízes profundas do sistema não passam de meros escravos modernos. A sociedade confabula uma histeria universal sem se dar conta da tolice em que está atolada até a goela. É a mesma máxima do peixe dentro d’água, imerso no líquido não se dá conta do mundo em que deixa fluir os dias e a vida.
Primeiro devo-lhe lembrar: “Você vai morrer!”. Isso mesmo. Vou repetir para que fique bem claro em sua fantasiosa mente: “Você vai morrer!”. E não há nada que se possa fazer perante esta certeza terrestre. Aquele que ganhou de Deus a oportunidade da existência, herdou também a certeza universal do perecer. Se sempre tivéssemos claro esta frase em nossa consciência, talvez, viveríamos melhor em uma sociedade mais igualitária e feliz.
O escravo de quem estamos falando, é cativo de si mesmo, ou de leis sociais que entranharam de tal forma pelo ambiente que parecem ser princípios divinos. Já somos domesticados ainda na barriga da mãe. A loucura é geral, arbitraria e cruel. São legiões mais legiões se lançando neste fogo diariamente. E quanto mais pessoas se deixam se seduzir, mais atração elas conseguem perante as demais. Seria um vício em escala planetária?
O homem atual acorda de madrugada. Quem diria: é ele quem acorda o galo e não o contrário. Trabalha feito condenado em campo de concentração. Alimenta-se mal. Quase não dorme. Anda com a saúde debilitada. Contudo, não, a conta bancaria tem vários dígitos. Ele tem vários automóveis, um monte de imóveis, bastantes investimentos, grandes fazendas, têm aqueles que possuem aviões e iates. O que eles não desfrutam é de tempo e liberdade.
Se já dissemos que iremos morrer, é bom trazer a luz outro dito popular: “Caixão não tem gavetas”. Como a cultura popular é sábia, de uma capacidade interpretativa da realidade assustadora, bem mais inteligente do que a massa humana. Outro ditado popular: “O cemitério está cheio de pessoas importantes”. Alguns nomes: Galileu, Einstein, Beethoven, Maquiavel, Camões, etc. Até o tal do Nietzsche que havia determinado a morte de Deus já está encaixotado debaixo do chão a bastante tempo. E aí ficamos nós imersos na loucura satânica de juntar um dinheiro que só existe no fetiche dos meandros de um sistema criado para ser o esqueleto do capitalismo selvagem. Se caixão não tem gavetas, para que trocar meu tempo que é finito por algo que não existe? Eu não acredito em Deus, não acredito em fantasmas, dizem muitos por aí; todavia acreditam que a matéria pode lhes pertencer.
E a loucura se dissemina pela família. O pai que trabalha o dia todo acha no direito de importar sua escravidão à esposa e aos filhos. A engrenagem só tende a ganhar força e velocidade. Se ele dá duro para levar conforto aos seus, os seus também têm por obrigação de seguir seus passos de escravo iludido. E esta praga é contagiosa, não há vírus ou droga igual. Os pobres dos filhos ainda novos já são obrigados a trabalharem arduamente na aquisição de técnicas para a garantia de lucros futuros. O pai ver o filho como herdeiro incondicional da sua burrice. E o filho sem noção da verdadeira razão da vida, acha ser aquilo normal e se deixa levar pelas águas que arrastam todos os cidadãos.
O escravo moderno vivi pela profissão, pelo seu ilusório status social. Domesticou-se ao trabalho, a rotina anual. É uma peça da engrenagem que move seu mudinho de contos de fadas. Em certa época do ano, tem que, por obrigação da moda, deixar seus afazeres e ir gastar um punhado de dinheiro em algum passeio. Tudo normal, passear é algo prazeroso aos nossos sentidos, faz bem para a alma. E quando no paraíso eles se encontram, pasmem, não conseguem usufruir de tais belezas, têm a mente voltada ao que deixou, sua preocupação está nos negócios, o medo de perder um centavo não os deixam largar o celular por um segundo sequer. Estão no paraíso, no entanto acorrentados e mutilados pelo império que levantou. Tiram fotos para mostrarem aos amigos, puras burocracias comportamentais impostas pela malha da sociedade. Para surpresa de todos, o momento mais feliz da viagem é quando pega o avião de volta, está sorridente, alegre, feliz, nem parece que está retornando ao trabalho.
O escravo moderno condicionou sua mente para ser cativo obediente e fiel. O problema todo é que os são pelo simples apego a matéria. Voltemos a repetir, sempre é bom frisar mais uma vez: “Você vai morrer”; “Caixão não tem gavetas”; “O cemitério está cheio de pessoas importantes”. Para finalizar nosso texto, outra máxima popular: “Tudo demais é sobra”. Até dinheiro!
Autor: Luiz Carlos Marques Cardoso.