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Romaria do Morro do Fogo
É que chega mais uma romaria do Morro do Fogo, com certeza a mais famosa da região do Vale do Paramirim. Quem já a visitou tem lá suas lembranças, boas ou ruins, pois nem todos gostam da aventura e do movimento. Romaria é tempo de peregrinação, de sacrifício, de religiosidade e de diversão também.
Esta festa, como tudo na vida, ao longo da sua caminhada vai sofrendo modificações. Cada geração dando sua pincelada de contribuição. Para aqueles que participaram há cem anos era de certa forma; para os que lá estiveram há cinqüenta, de outra; e aos que para lá foram nos últimos quinze, também; mas para os dois últimos anos mudou-se do vinho para água, não foi realizada.
Na antiga, o pessoal tinha que vencer o percurso da sede de Érico Cardoso (Água Quente), ou de outras paragens, a pé ou em lombo de animais. Estrada quase não existia; automóvel ainda estava por ser inventado. Mas a fé que remove montanhas fazia com que estas pessoas fossem fazer suas penitências e pagar promessas ao pé de Nossa Senhora do Carmo. O tempo era difícil, mas era o tempo evoluído de então.
Nossa região naqueles longínquos anos tinha poucos festejos, não era como hoje. Quando chegavam certas datas, a do Morro do Fogo era uma delas, a população, que passava o ano a esperar, ia em peso trocar a rotina dos longos dias por algo particular. Como sempre, onde tem gente, tem comércio. E era o momento de muitos ganharem o pão vendendo produtos que hoje são comercializados em lojas, contudo que naquele tempo só se encontrava por lá. Era a ocasião para ver gente nova, pois o povo da região se reunia naquele espaço, naquela especifica dada.
Nas duas últimas décadas a festa voltou a ganhar visibilidade. Cada ano o número de romeiros e festeiros aumenta. A festa que era comemorada nos dias quinze e dezesseis de julho, em 2019 teve uns três dias a mais. A parte profana cada vez atraindo mais pessoas. Vão em busca da aventura, muitos de motos, pelas estradas empoeiradas e sinuosas. Buscam o frescor da água do rio, o contato com a natureza. Desejam comer ovo e beber pinga, como foi imortalizado na canção do cantor regional Lando Ramos. Também tem a famosa lingüiça, tudo temperada com um pouquinho de poeira que cobre as ruas e estradas. Dormi debaixo do pé de café, chupar laranja azeda, tocar violão e beber bastante aguardente. Sem falar no friozinho característico da estação do ano. E no sobe e desce pelas ruas.
A parte religiosa continua quente nos corações dos fies devotos. Acontecem as celebrações, a procissão, a levantada do mastro. Ainda há os batizados e os casamentos, todos acompanhados pelos sanfoneiros. No passado, as missas eram realizadas em latim. E em certos momentos a beleza dos fogos de artifícios. Tudo ministrado pela tutela do Padre.
O ponto que atrai mais a juventude é a festa ao lado do palco, o forró. Parece carnaval em cidade grande. Difícil entender onde são colocados tantos carros, pois o local possui apenas duas estreitas ruas. As casas são alugadas, e muitos romeiros adquiriram terrenos por lá e fizeram suas moradas, apenas para serem usadas nesta singular data.
É que apareceu a pandemia e fez com que cancelasse a romaria, já são dois anos seguidos. A tristeza abateu-se sobre nossa região. Mas tenha certeza, quando ela for embora, de certo ainda neste ano, a romaria voltará com mais gás e animação. Deus escreve certo em linhas tortas, como diz o provérbio. Tudo tem seu tempo. Com fé em Deus e a intercessão de Nossa Senhora do Carmo esta pandemia desaparecerá e poderemos juntos voltarmos a realizar nossa linda romaria.
Viva Nossa Senhora do Carmo!
Autor: Luiz Carlos Marques Cardoso.
