Meu amigo, você viu por aí uma senhora de nome Água? Ela é sem cor, não tem gosto, nem fede e nem cheira. Antigamente andava a cair do céu aos montes, descer pelos rios a fazer barulho, mas lhe confesso, há muito tempo que não a vejo mais. Por onde anda essa danada? Já procurei debaixo da terra, disseram-me que o homem a arrancou de lá, fui ver os lagos e lagoas, disseram-me que os agricultores surrupiaram para suas propriedades, fui de encontro aos rios, sequer encontrei uma única lágrima. Por onde mais procurar? Se for por causa de dinheiro, fale-me pelo menos a direção tomada, posso pagar por ela, pago caro, não consigo viver na sua falta. Ninguém se atreve a me regar com uma luz. Quem diria, naqueles tempos com tamanha fartura, hoje penamos com os nossos reservatórios quase vazios. Água, volte para mim! Eu lhe amo! Sou louco pelo seu frescor, louco, louco, louco… Água, eu quero água! Mate-me a sede. Não me deixe perecer!
