OS. TERNOS. DE REIS. Desde tempos imemoriais ainda Arraial do Ribeiro, promoviam-se no período natalino as Folias dos Santos Reis. Foram os negros da Fazenda do Arraial que criaram o grupo, sob a regência do escravo Lamberto e faziam quebrar a quietude da noite com as cantigas das músicas que louvável o Menino Jesus. Desde aí, essa efeméride constitui uma tradição que crescia, à proporção que os anos passavam. Chegou até nós e muitos daqui se recordam da alegria derramada em torno dos presépios que se amavam em todas as residências. A partir do dia primeiro de janeiro, estendia-se, dia e noite, madrugada adentro, o cantarolar dos reiseiros que não saltavam portas! Cantavam defronte às casas e os donos tinham de levantar-se para receber a singela visita da réplica dos Reis Magos do Oriente que levaram ouro, incenso e mirra pelas mãos de Baltasar, Gaspar e Melchior. E assim formavam-se muitos ternos de Reis, especialmente, entre a população mulata, dos quais vários tornaram-se nossos conhecidos: Chico Bazé, Tião de Sulina, João Pereira Francino, Peixoto e tantos outros que se fizeram acompanhar das sambistas: Flora, Maria Chiquinho, Zabe’ de Colo’, Sá Clemencia e tantas mais que sapateavam-se nas salas das manjedoura como se tivessem pisando nas estrelas !Quem não se recorda de Sá Lió, com sua indumentária típica com o chapelão enfeitado de fitas de todas as cores, cantando em cada papinha: “Deus vos salve casa Santa onde Deus fez a morada…”Todo este folclore que ” foi enriquecido com as culturas africana e indígena “, transpôs os anos em fora, existindo atualmente só o Terno de Chiquinho de Peixoto ! O povo de hoje parece estar saturado com as tradições, negligenciando as manifestações culturais e o turismo Este ano essencialmente atípico pela ameaça constante dessa cruel peste chinesa viu-se calar o canto dos sobrantes reiseiros, fez calar o zabumba, emudece os tambores, e os presépios ficaram sem receber a visita dos pastores! E você sentiu essa falta? E fez o quê? Nada? !!
Por – Antônio Gilvandro Martins Neves