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23 de setembro de 2023
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O primeiro vigário da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo

O primeiro vigário da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo

Dom Sebastião nasceu no dia 20 de janeiro ( dia consagrado ao santo do seu nome ). Quanto ao ano, divergem as opiniões entre 1820, 1821 e 1822. Ele sempre  comemorou como ano do seu nascimento o de 1822, que foi também o da Independência do Brasil. Nos < autos de genere > encontra-se a justificação do seu batismo por não se ter achado o registro do mesmo. Pelos depoimentos das testemunhas consta que ele <foi batizado no mês de janeiro de 1821 pelo Pe. Tomás da Silva Brandão no Oratório da casa do seu avô Inácio Correa de Lacerda, da freguesia de Morrinhos, sendo seus padrinhos o mesmo avô e Lina dos Santos Marques>

Era filho de Joaquim Dias Laranjeira e Maria Inácia de Jesus, naturais da freguesia do Eixo, a 7 km de distância de Aveiros, Portugal, tendo seu pai chegado ao Brasil ainda novo, solteiro ou casado de fresco. Descende pelo lado paterno de Manoel Dias Laranjeira e Sebastiana Marques. Pelo lado materno é neto de Inácio Correa de Lacerda, cujos descendentes, muito numerosos, estão espalhados pelos municípios de Sebastiao Laranjeira. Palmas de Monte Alto, Santa Maria da Vitória e na própria capital da Bahia.

Quanto à sua vida, sabe-se que nasceu no lugar então denominado de Mamonas, que a partir de1840, fazia parte da freguesia de Nossa Senhora dos Morrinhos de Monte Alto, isto no polígono das secas, interior do sertão baiano, a 860 km de distância da  capital. Projetando-se estas localidades sobre um mapa atual sabe-se que a sede da freguesia de Nossa Senhora dos Morrinhos é o município de Palmas de Monte Alto, cuja igreja matriz é dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens. Mamonas denomina-se agora Mandiroba, nesse antigo distrito surgiu uma nova povoação, que se tornou sede do novo município com a denominação  de Sebastiao Laranjeira, em homenagem ao mais ilustre filho de Mamonas, o primeiro vigário da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo e segundo bispo do Rio Grande do Sul.

Empenhados em lhe proporcionar uma boa educação, seus pais enviaram-no para a cidade de Cachoeira, nas proximidades de Salvador, onde permaneceu durante alguns anos. De 1840 a1844 cursou teologia no Seminário Arquiepiscopal de Salvador, sendo ordenado sacerdote em 10 de março de 1844. Por proposição do Arcebispo D. Romualdo Antônio de Seixas, que lhe conferiu todas as ordenações, o novo sacerdote foi apresentado pelo jovem Imperador D. Pedro II, pároco inamovível da nova paróquia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo, criada pela Resolução Provincial n° 200, de 29 de maio de 1843, uma comunidade, onde no passado havia florescido importantes lavras de ouro. Nessa freguesia, a única que paroquiou em toda sua vida sacerdotal, o padre Laranjeira permaneceu 13 anos ( 1844-1857 ) de intensa pregação religiosa

Vários fatos importantes aconteceram na povoação do Morro do Fogo no período em que o Pe. Laranjeira esteve na direção dessa  paróquia. Em agosto de 1850, a freguesia  recebe, por ordem de D. Romualdo, o missionário Apostólico Capuchinho Frei Caetano de Troina ( italiano ) para dar continuidade à sua profícua caminhada evangelizadora pelos sertões da Bahia, iniciada em 1848. Nessa jornada, concluída em 30 de agosto do citado ano, a missão contabilizou na freguesia, dentre outras celebrações, 1.312 crismas com grande êxito, conforme registro do Jornal O Noticiador Católico de 26 de julho de1851. Em 1854, José Izidro da Silva aparece como professor da única cadeira existente neste arraial, nela permanecendo por mais de 20 anos, até a sua jubilação. importantes também foram as reformas pelas quais passou a igreja da freguesia nos primeiros anos de sua elevação à matriz e a visita oficial realizada em fevereiro de 1855 pelo Pe. José de Souza Barbosa, cônego honorário da Se Metropolitana do Brasil, vigário, visitador da comarca de Rio de Contas, constituído pelo Arcebispo Primaz do Brasil, Dom Romualdo Antônio de Seixas e vigário colado da freguesia do Senhor Bom Jesus de Rio de Contas, ocasião em que fez constar em ata vários louvores ao vigário. Sebastiao pelo seu zelo e dedicação no cumprimento de seus deveres, bem como as medidas a serem  adotadas nas capelas da  freguesias

Predestinado que era para servir à igreja em outras dimensões, o padre Sebastiao não se acomodou diante dos desafios encontrados. Conta-se que nesse importante período de sua vida, ele já lia em Morro do Fogo, jornais estrangeiros, os quais  chegavam  às suas mãos após um longo e demorado percurso. Seu sonho era se doutorar em direito canônico. Com o apoio de D. Romualdo requereu  licença ao Imperador para satisfazer esse antigo desejo de aperfeiçoar-se em ciências teológicas em Roma. Uma vez concedida a permissão imperial,  organizou a sua viagem e em 25 de março de 1857, numa missa comuntual, onde se achavam pressentes muitos dos seus paroquianos, o ilustre filho de Mamonas despediu-se do seu rebanho com um belo sermão, publicado em 2 maio no <Noticiador Católico> de Salvador. cuja cópia temos em nossos arquivos. Como um enviado de Deus, partiu para o seu destino a fim de realizar a sua pretensão, deixando na sua paróquia um substituto pago a as suas custas, pelo que se deduz o Pe. João Miranda Veras

Não temos o trajeto por ele percorrido, mas sabemos que em setembro desse mesmo ano chegava a Roma, onde se matriculou na Faculdade de Sapienza para cursar Direito Canônico, após passar por Paris, onde chegou a conhecer o seminarista Antônio de Macedo Costa, seu futuro irmão no episcopado e companheiro de lutas. Em junho do ano seguinte recebeu o diploma de láurea e em 5 de junho de 1860, o grau de doutor em direito canônico. Durante a sua permanência na cidade eterna, hospedou-se na residência do casal Salvatore e Paulina Paolini, que o convidou para ser padrinho de um de seus filhos.

Sustentado por essa portentosa biografia, traçada pelo monsenhor Ruben Neys, apresentada em solenidade no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul por ocasião da comemoração do centenário do seu falecimento. Sua passagem pelo sertão da Bahia, também precisa ser lembrada. Foi o primeiro vigário da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo. Um fato realmente marcante.  Como sacerdote ajudou a assentar as bases de uma paróquia erguida nos contrafortes da serra geral, no seio de uma eclética população em torno de 14.000 almas, sendo mais de 1/3 delas constituídos de escravos, conforme registro do primeiro recenseamento do Brasil, realizado em 1872.

Historiar a sua presença em Roma na faculdade de Sapiência  posteriormente à sua peregrinação à Terra Santa, onde rezou missa e lembrou dos seus paroquianos do Morro do Fogo, seria relato muito longo para as nossas considerações. Limitamos  apenas em dizer que antes mesmo de ser diplomado foi contemplado com a nomeação para o ocupar o Bispado de Porto Alegre mais uma vez por Decreto do Imperador Dom Pedro II, de 7 de outubro de 1860.

Episódio marcante em sua vida durante a sua permanência em Roma refere-se à peregrinação  que fez aos lugares santos da Palestina  nos meses de abril a maio de 1859, período em que recebeu a a permissão do Patriarca de Jerusalém para celebração de missa por três meses até em altar portátil. Ao voltar, descreveu detalhadamente as emoções da viagem, cuja narração em parte transcrevemos abaixo com toda fidelidade da forma como foi produzida.

<Daqui parti no dia 20 de março, e no dia 1º de abril tive a consolação inefável de me prostrar em Jerusalém junto ao sepulcro glorioso do Salvador, e adorá-lo sobre o Calvário, onde seu sangue lavou os pecados do mundo! Julgue V. M. das emoções continuadas que se apoderaram do seu espirito em lugares tão santos e caros aos cristãos; basta dizer-lhe que naquele momento solene foram tantas lagrimas que derramei, e tais os soluços que mal podia responder ao padre Franciscano que me acompanhava. Assisti toda essa semana santa nos mesmos lugares onde se passaram os feitos que ela comemorava. Celebrei três vezes o Santo Sacrifício no S. Sepulcro, e quatro vezes sobre o Calvário. Visitei e também celebrei no honto de Getsêmani, no Monte das Oliveiras e no sepulcro de Lazaro em Betânia, percorri todos os arredores de Jerusalém: fui duas vezes a Belém, à Gruta do Nascimento, ao campo dos Pastores, â São João in montana lugar da natividade do São Precursor e Vintação de  Santa Isabel, ao Vale de Terebinto à Fonte de S. Felipe, ao hortus conclusus et fons signatus de Salomão: estive no Mar Morto, antigo assento das cinco cidades malditas, e onde  ainda se vêem com horror vestígios terríveis da cólera de Deus ; banhei-me no Jordão e na Fonte do Profeta Eliseu, vi as ruínas de Jericó, e a bela planície de Gálgala; subi ao monte da quarentena, onde Nosso Senhor jejuou quarenta dias e foi tentado pelo diabo. Atravessei toda Samaria e Galileia até Nazaré, dali fui a Tabor, ao lago de Tiberíades, onde comi excelentes peixes, descendentes daqueles que pescavam São Pedro e os Apóstolos; estive no monte das bem-aventuradas, e onde Nosso Senhor multiplicou o pães e os peixes, passei em Caná da Galileia e de lá fui ao Carmelo; ah! quanto nesse sagrado monte me lembrei da minha freguesia ( de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo ), e com que fervor ali disse missa pelos meus paroquianos do Carmelo.>

De1857 até a chegada do Pe. João Paranhos da Silva a Água Quente, em junho de 1871, passaram pela Freguesia de Nossa Senhora do Carmo os sacerdotes Joao Peixoto de Miranda Veras, Joao Paulo de Souza e Joao Nepumuceno da Silva, este último falecido por volta de 1868. Em abril de 1858 aconteceu a ordenação sacerdotal do Padre Joaquim Augusto Vieira, natural da freguesia, sobrinho pelo lado materno do coronel Liberato Jose da Silva, um dos principais instigadores da criação  da paroquia de Santo Antônio, criada em 6 de agosto de 1881, pela Resolução provincial n° 2.236.

Os últimos dias de Dom Sebastião foram marcados pela doença que foi aos poucos minando o seu corpo, isso depois de ter sido salvo da morte em  diversas ocasiões. Alquebrado não tanto pela idade como principalmente pelas fadigas de um verdadeiro apostolado seu último ano de vida destacou pela grande  campanha em favor da  abolição.   Em 13 de agosto de 1888, justamente três meses após a assinatura da Lei Áurea faleceu Dom Sebastiao Dias Laranjeira, considerado uma gloria da igreja brasileira e rio-grandense, o segundo bispo  de Porto alegre e primeiro vigário da freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo. Seu enterro, conforme os jornais da época, foi uma consagração. Porto Alegre nunca vira  homenagem semelhante.

Assim, depois de doze dias de sofrimento, no meio da maior resignação e confortado  com os sacramentos da Santa Madre Igreja, exalou o venerando  Prelado no dia 13 de agosto de 1888, às 06h15min da manhã, o seu último suspiro. Seu corpo foi embalsamado por Dr. Adolfo Josetti e colocado em rico caixão para ser velado durante três dias na Capela do Seminário, onde toda cidade desfilou para beijar o sagrado anel. Diz o Jornal do Comércio de 18 de outubro de 1888 que ” eram 3h30min da tarde, dessa data, quando na presença dos sacerdotes seus amigos e do povo que o prezava foram retirados para sempre todos os despojos do excelso Prelado, Dom Sebastião Dias Laranjeira, para ser sepultado numa carneira subterrânea, na Capela-Mor da Catedral de Porto Alegre.”

Em 27 de maio de 1889, na ocasião em que os restos mortais de Dom Feliciano foram transferidos para a Capela-Mor da Catedral, para descansarem ao lado de Dom Sebastião, ambos foram cobertos com grandes lápides de mármore. Na lápide de Dom Sebastião constam as seguintes palavras: ”Heic in pace dormit – Sebastianus Dias Laranjeira – Ecclesiae hujus Episcopus alter – qui – XIII Cal. Feb. a.D. MDCCCXX natus – ac Non. Oct. a. D. MDXXXLX Episc.sacratus – e vita pie et deploratus cessit – Idibus Aug. a. MDCCCLXXXVIII – Adeste Cives advenaeque – Pacem adprecaminor viro – cui religio debet et patria”.  Cuja tradução é: ”aqui dorme em paz – Sebastião Dias Laranjeira – segundo bispo desta Igreja – que nascido em 20 de janeiro de 1820 – e ordenado bispo em 7 de outubro de 1860- faleceu piedosamente e chorando – em 13 de agosto de 1888 – Comparecei, cidadãos e peregrinos – pedi a paz para o homem – a quem a religião e a pátria são devedoras”.

Paramirim, 29 de setembro de 2021.

Prof. Domingos

Fonte: Facebook de Domingos Belarmino.

Luis Carlos Billhttps://focadoemvoce.com/
Luiz Carlos Marques Cardoso (Bill) trabalha de forma amadora com fotografia e filmagem. Ele gerencia atualmente dois sites: um de notícias e um pessoal. Está presente nas redes sociais, como no Instagram e Facebook, e tem um canal no YouTube com uma variedade grande de vídeos referentes à região da Chapada Diamantina e do Sertão brasileiro. Sua formação profissional é a de Contador.

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