Desde os tempos imemoriais, criou-se no imaginário do povo uma infinidade de crendices, das mais horripilantes às mais cômicas a que se podem ver. Era ao tempo da Quaresma que vinham à tona a manifestação das lendas. Quando era criança, ganhava tempo em ouvir aqueles anciãos de nossa Cidade narrar as histórias e estórias dessas figuras, para eles, profundamente verídicas. E aqueles contos enchiam-nos de medo! Dessa forma, o tempo quaresmal versava mais sobre essas figuras enigmáticas do que a mensagem dAquele que deu totalmente a vida por todos nós: JESUS, sofrendo pelas ruas de Jerusalém até pairar-se na cruz do Calvário cruel. Falavam-nos da Caipora, que tinha o corpo peludo, montava em porco do mato, carregando sempre um varão para defender os animais da floresta. A Cuca era um monstro também usado para assustar crianças. Era uma bruxa com corpo de jacaré. Ficou conhecida no Brasil inteiro depois que apareceu como personagem do programa infantil Sítio do Pica Pau Amarelo, baseado em Monteiro Lobato. Outro mito era a Mula-Sem-Cabeça, um cavalo onde, em vez de cabeça, vê-se uma bola de fogo. Dá coices fortes em quem encontra pela rua. Mais outro, era o Saci Pererê, com apenas uma perna, usava uma carapuça vermelha, fumando cachimbo e aprontando pequenas travessuras como traçar as crinas de cavalos e esconder coisas, ocultando-se num redemoinho. De todas as figuras míticas, a que se dava mais Ibope era o Lobisomem! Conforme creram, seria ele o sétimo filho de um casal, após nascer seis filhas. Na sexta-feira de lua cheia, da meia- noite até 2 horas da madrugada, ele se transformaria num lobo peludo. Esta figura lendária, originária da Grécia Antiga, na Europa, chegou no Brasil pelos portugueses. Hoje, essa crença vem diluindo-se, vez que o novo conceito de Quaresma, a partir das Campanhas da Fraternidade, está voltando às fontes bíblicas, mostrando que ela só tem a ver com Jesus que “deu a vida em resgate de muitos” (Mateus 20,28).
Texto: Antônio Gilvandro Martins Neves.
