De repente, sentei-me neste sofá. Vi-me a pensar na vida. Ontem minha rotina seguia as certezas dos dias anteriores. Andava mecanicamente a realizar as mesmas banalidades de sempre. Pouco ou quase nada absorvia de novo, apenas repetia as mesmas palavras e os mesmos movimentos. De repente, algo aconteceu e me tirou da minha zona de conforto. Voltei-me para mim mesmo. O pânico me dominou. Comecei a suar gelado, a cabeça martelando constantemente, uma indigesta dor no estômago. Meu presente havia se modificado. O que será do meu futuro? De repente, dei-me conta que existo, que tenho família, que por muito tempo andei vivo, mas apagado para a real necessidade do mundo. Sentir um amargo na boca ao perceber que meus passos não me levaram a lugar algum, perambulei em círculo. De repente, o amanhecer se pintou novamente aos meus olhos como jamais o percebi. O aroma pueril das flores me fez flutuar. Sensação formidável ao me banhar nas águas límpidas do rio. De repente, percebi que meu dinheiro não seria suficiente para sanar minha patologia. Que o céu é lindo tanto de dia com suas nuvens e o sol como de noite com as estrelas e a lua. De repente, olhei para o alimento e agradeci por tê-lo na mesa. Bebi o café quente e vi o valor impagável de saborear aquele doce perfume. De repente, sem saber o porquê tive vontade de sair, de conversar, de escrever, de apenas andar. Bastou um movimento dos astros para em mim operar um verdadeiro milagre. De repente é tudo que necessitamos para voltamos a viver, a dá valor ao que realmente tem valor.
