A SUBIDA DA MONTANHA. Mais uma vez, estamos a falar deste assunto de valor interminável: a ROMARIA DO MONTE DO CARMO, cujo objetivo era visitar o Santuário de pedra e ouro, encravado na cordilheira que circunda o povoado do Morro do Fogo. Sempre, no dia de hoje, eram os preparativos e as partidas. Preparativos que se iniciavam, há vários dias, onde os Romeiros começavam a arrumar a matula para a viagem. Alforges que seriam anexados às selas. Bruacas estopetadas de mantimentos para cozer nas rancharias. Outras com a carne salgada, os ossos e os pernis para assados ou feijão tropeiro. E assim iam pela estrada poeirenta, escalando as ladeiras íngremes e os carreiros estreitos, onde haviam lugares que se subiam como se fora um felino trepando numa árvore. Ao lado de toda essa via penitencial firme estava a peregrinação dos Romeiros que, numa sadia euforia, cantava, louvava. naquele otimismo que nem se importavam com as dificuldades da caminhada.! Eis que chegam ao Morro aos pés da Santa do Carmelo. Primeiro passo era entrar no Santuário para visitar a Dona da romaria, rezando para ela e pedindo-Lhe copiosas bênçãos. Daí partiam para as rancharias que constituíam, a maioria das vezes, a sombra dos cafezais. Assim, começava a vivência de três dias nos festejos do Carmo e do Rosário, onde, naquele sobe e desce de sua única Avenida enladeirada, os Romeiros iam e vinham da Igreja, rezando, pedindo, implorando, ouvindo aquelas ladainhas em vozes de rouxinóis das cantoras sacras. À noite, o leilão. e o terno de zabumba, tradição centenária que nasceu nas mãos escravas que louvavam apaixonadamente aquela que proclamou no Magnificat: “Depôs dos tronos os poderosos e exaltou os humildes.” (Lucas 1. 45-56) Assim, o dia de hoje, relembra as primitivas romarias que foram andando pelos séculos em fora, até que, há não muito tempo, foi-se aculturando, muito embora não perdesse a riqueza de sua formação contínua. Válido ê todo tipo de tradição que subsiste nesta bicentenária Romaria. Aliás, o grande pensador Gilberto Luna tem uma definição irretocável a respeito: ” O progresso nada mais é que a tradição em marcha” Portanto, a Romaria do Morro do Fogo, genuinamente pura, não confunde suas manifestações culturais e religiosas com qualquer crendice alienada. Por isso, é que ela, no seu admirável fulgir, “é uma verdade velha que é sempre nova”, como dizia Santo Agostinho! A Mãe do Carmelo ou do Carmo disse de si para si: “TODAS AS GERAÇOES ME CHAMARAO BEM-AVENTURADA”.
Texto: Antônio Gilvandro Martins Neves.
