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Vou narrar um fato muito importante que aconteceu na minha vida. Não na minha em especial, mas na dos meus dois personagens. O filósofo e um rapaz bandido.
O filósofo estava se dirigindo a um local determinado, passava por uma rua pouco movimentada, apenas se preocupando com os seus pensamentos, sequer dava ocupação com o que o rodeava. De repente, o frio de uma arma no pé do pescoço, uma voz de fera a coagi-lo a parar.
– Pare! Se não morre.
Sereno, sem tremer, dono de si, dono da razão, esperou.
– Passe a grana.
– Deixei o dinheiro em casa. Sair apressado. Se eu soubesse que você estaria aqui, traria dinheiro, contudo acabei me esquecendo deste encontro, de você.
– Então você irá morrer.
– Vou a minha casa e trago dinheiro para você. Para que você quer dinheiro mesmo?
– Não é dá sua conta! Não me faça perguntas. Eu quem estou no controle da situação. Sua vida me pertence.
– Quer dizer que a minha vida pertence a um idiota?
– Como? Você me chamou de idiota. Agora irá morrer mesmo.
– Eu, morrer? Não. Hoje não é meu dia. Mas saiba, se você me matar, irá ao inferno, e eu ao céu. Irei ficar o esperando lá em cima para sorrir da sua desventura.
– Inferno quem irá é você. Vou viver muitos anos ainda.
– Já disse a você que hoje não é o dia da minha morte. Sei quando eu irei morrer e de que forma. Converso sempre com meu anjo da guarda.
– Querendo me tapear. Chega de tanta lorota.
– Então atire! Atire e veja só.
– Posso atirar?
– Está com medo? Cadê o rapaz que era dono da minha vida? Atire agora, medroso.
E o rapaz apertou o gatinho. O revólver pisou.
– Atire novamente!
E o gatilho foi apertado. O revólver voltou a falhar.
– Este otário não sabe atirar. Dê-me esta arma e verá como sou bom no tiro.
O rapaz de queixo caído passou-o a arma.
– Está vendo aquela lâmpada no poste? Já era.
Atirou e a bala a fez em frangalhos.
– Tome a arma. Atire novamente em minha cabeça. Vá!
O rapaz apertou o gatilho e nada.
– Dê-me novamente. Está vendo aquela gaiola pendurada?
Atirou e a gaiola veio ao chão libertando o passarinho.
– Quer tentar mais uma vez?
O rapaz com os olhos espantados ficou imóvel sem saber o que dizer.
– Se eu quisesse matá-lo? Você disse que a minha vida pertencia a você. Minha vida pertence a Deus. Você não me matou, mas irá para o inferno de qualquer jeito, pois o que conta é a sua vontade e o ato praticado. Só não morri porque não era meu dia, mas foi sua vontade me matar. Agora, tome a arma e tente acertar aquele tambor.
O rapaz tremendo atirou e a bala se perdeu.
– Agora atire em mim novamente.
Ele mirou na cabeça e apertou o gatilho. Nada.
– Agora eu sei quando você irá morrer.
– Quando?
– Ainda hoje você estará entrando no inferno.
– Que nada. Vou viver por muitos e muitos anos.
O filósofo se foi e o rapaz acordou daquele transe. Não sabia se tudo foi imaginação de sua mente doentia e intoxicada pelas drogas, ou se de fato fora fruto da realidade. Olhou no tambor da arma e faltavam algumas balas. Balançou a cabeça e saiu à procura de uma nova vítima.
Encontrou um senhor e fez a abordagem. Na confusão atirou e feriu o idoso mortalmente. Saiu correndo alucinado, não viu um caminhão que entrava na curva, este veio a atropelá-lo fatalmente.
E aí a história segue em outro plano, em um novo e assustador lugar.
Autor: Luiz Carlos Marques Cardoso.