Após vários meses de estiagem dura e pesada, enfim a chuva voltou a fertilizar o solo seco do Sertão. Nos últimos dias, os sinais da natureza davam conta que a agonia de um longo período partiria em retirada deixando a esperança para os seres viventes na Caatinga. A jurema-preta floriu por completo, uma verdadeira noiva; as formigas de asa deixaram as tocas e ficaram a vagar de um lado a outro; o calor insuportável adentrava pela noite parecendo a sauna; o mandacaru do terreiro abriu seus primeiros botões. Ver tais sinais é como sentir os pingos refrescantes da chuva por antecipação. Dois dias depois, a manhã amanhecera diferente, algumas nuvens formavam pelos quatro horizonte, o calor do sol asfixiava, o vento sumiu. No final da tarde, as nuvens engrossaram, ao longe cordões finos de chuva molhavam. A noite chegou sorrateira, meus olhos procuravam alguma coisa, para o leste pequenos fleches avisavam que as trovoadas estavam a caminho. Não demorou muito, uma ventania abateu sobre a região, o vento soprava forte. Os relâmpagos aumentavam sua intensidade, já se ouviam tímidos trovões. O cachorro latia no quintal, o gato correu para se esconder. Estava eu na janela a contemplar a beleza da chuva. Como poderia dormir logo quando chega a visita tão aguardada? Peguei uma xícara de café quente e fui tomar na varanda. Os primeiros pingos, pela graça de Deus, tocaram o chão enchendo o ambiente de alegria. O cheirinho característico das primeiras chuvas subiu da folhagem morta. Que cena fantástica. Que sabor delicioso. De repente, o barulho da chuva que vinha chegando, quanto mais perto, mais alto o som. Meu coração batia de contentamento no ritmo contagiante da chuva que se chocava lavando a vegetação adormecida. As telhas encharcadas deixavam escorrer em enxurrada o líquido da vida. Relâmpagos e trovões pintavam o céu com cores e sons. Sorvia o café quente e pensava na fartura do milho e do feijão catador. Sorvia mais uma vez e imaginava o gado gordo pastando o capim verde. Com a chuva a vida ganha novo sentido, com a chuva o Sertanejo é feliz.
Crônica de Zé do Bode.